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(Re)PISA

Graças aos resultados alcançados nos testes PISA de 2009, José Sócrates aproveitou imediatamente para defender que tal sucesso se deveu ao seu primeiro governo, incluindo no elogio a nunca suficientemente elogiada Maria de Lurdes Rodrigues. Deu-me, então, para fazer algo … Continuar a ler

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A praga do empresarialês

A linguagem que se aplica à realidade depende de quem a aplica, é certo, mas é inevitável e, até, desejável que a realidade influencie e limite a linguagem. Explico-me: é absolutamente natural, por exemplo, que palavras como sintoma ou diagnóstico ou … Continuar a ler

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A indisciplina na Escola, realidade e ilusão

  O Diário de Notícias faz referência ao aumento de processos disciplinares instaurados a alunos durante o ano lectivo que ora finda. O Ministério da Educação, com o humor que o caracteriza, atribui esse crescimento a “uma maior atenção e rigor … Continuar a ler

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Suuuuuperprofessor

         “Não é uma ambição ao alcance de todos”, avisa Armandina Soares, presidente do conselho executivo do Agrupamento de Escolas de Vialonga, em Vila Franca de Xira. Só para os que conseguirem ser professores, mediadores culturais, directores de turma, formadores, assistentes sociais, psicólogos, gestores e administradores. Tudo ao mesmo tempo e, mesmo assim, não chega. Há também que dominar as novas tecnologias, participar em colóquios, seminários e conferências em Portugal ou no estrangeiro para as probabilidades aumentarem. Doutoramentos, mestrados, cursos de formação e reciclagem e ainda muita experiência em escolas problemáticas são as condições finais para garantir a selecção.

            A presidente do conselho executivo de Vialonga admite implicitamente que as escolas problemáticas precisam de mediadores culturais, assistentes sociais, psicólogos, gestores e administradores. Seguindo esta linha de raciocínio, o que se deveria fazer? Contratar mediadores culturais, assistentes sociais, psicólogos, gestores e administradores. Se tenho um problema de canos, chamo um canalizador. Se tiver dor de dentes, vou a um dentista.
            
Isso mandaria a lógica, mas não o ordena Armandina, decerto sob o olhar enternecido da trindade ministerial. Para desempenhar todas estas funções, basta que se seja professor, ou melhor, superprofessor. Imagino, aliás, que, como qualquer super
-herói, este superprofessor passe a vida a mudar de roupa em cabinas telefónicas, transformando-se ora em funcionário administrativo, ora em psicólogo, num rodízio de funções que deixaria tonto um simples mortal, mas não o superprofessor.
            
É mais uma prova da superioridade da classe docente sobre todas as outras. Um assistente social só pode ser assistente social. Um psicólogo não pode ser mais que um psicólogo. Um professor pode ser tudo isso, mesmo que não tenha tempo para preparar aulas, actividade secundária numa classe docente moderna.
            Doravante, poderemos olhar interrogativos os céus e gritar: “Será um assistente social? Será um psicólogo? Será um mediador cultural? Não! É o superprofessor!” Fica, no entanto, uma pergunta por fazer: “Será um professor?”

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Fanfe em Fafe – os caciques continuam a atacar

BE levou caso ao Parlamento

Destituição em escola de Fafe é uma história toda em tons de “rosa” 
09.05.2009
– 18h31 Graça Barbosa Ribeiro

O caso que o BE levou ontem ao Parlamento, com um pedido de esclarecimento à ministra da Educação, é invulgar. Não apenas por se tratar da demissão do coordenador de uma escola básica de Fafe, mas, também, porque todos os protagonistas detêm cargos de relevo no PS local.

A história parece linear. No dia 26 de Abril, depois de inaugurar em festa duas bibliotecas, o presidente da câmara, o socialista José Ribeiro, dá com a terceira quase vazia. Na escola de Quinchães estavam, contando com os elementos da sua própria comitiva, 13 pessoas. Enfureceu-se. “Logo ali, no discurso, avisei que ia querer explicações!”, disse ontem.

E elas chegaram: Lopes Martins, o presidente da junta eleito numa lista independente, informou que ninguém o incumbira de promover a inauguração. “Não temos nada a ver com isso. São coisas lá deles”, reforçou, quando contactado pelo PÚBLICO. O director da escola, Pedro Ribeiro, forneceu mais dados ao presidente da câmara.

Conta o autarca que Pedro Ribeiro – que foi presidente do conselho executivo antes de se tornar director – o informou de que abrira um inquérito, para averiguar o que se passara. Mas que, entretanto, dotado que está dos poderes conferidos pelo novo modelo de gestão, destituíra já o coordenador da escola do 1.º ciclo do ensino básico, que perdera a sua confiança por não ter feito os convites a pais, professores e alunos, como lhe fora pedido. A esta situação reagiu publicamente o autodenominado “representante dos pais”, Ivo Cunha, que denunciou o que considera “um linchamento político”.

Explicou ontem ao PÚBLICO Ivo Cunha (membro da comissão política concelhia do PS) que o presidente da câmara foi adversário, em eleições internas, do actual líder da Federação do PS de Braga, Joaquim Barreto. E que o coordenador da escola que foi destituído, António Barros, não só apoiou este último, que é presidente da Câmara de Cabeceiras de Basto, como faz parte da distrital do PS. Já o director do agrupamento – que mandou dizer, face às insistentes tentativas de contacto, que “não presta declarações” – é deputado socialista da Assembleia Municipal de Fafe.

Para Ivo Cunha não há dúvidas: “Isto é vingança por o António Barros ter apoiado o Joaquim Barreto.” Mas o presidente da câmara garante que não: “Que enorme disparate!”, exclamou, assegurando que “se alguém se portou mal nesta história” foi o coordenador da escola, António Barros, que não fez os convites, acusa, “por ter confundido questões pessoais com assuntos institucionais”. E fez questão de explicar que o desentendimento entre ambos “é anterior às divergências partidárias”: “O Barros zangou-se, em 2005, porque não garanti emprego à filha dele, que fez estágio profissional na Câmara de Fafe e trabalha agora na autarquia de Cabeceiras de Basto”, cujo presidente é líder da distrital, disse. António Barros não quis prestar declarações.

Aqui

 

 

                Comentário:

 

Confrontado com a pouca assistência na inauguração de uma biblioteca escolar, o Presidente da Câmara, doravante designado por “senhor regedor”, avisa que irá pedir responsabilidades. Ou seja, na opinião do senhor, comparecer a uma inauguração a um Domingo era um dever que algumas pessoas se esqueceram de cumprir. Assim, o senhor regedor sente-se no direito de exprimir indignação e deixa a ameaça a pairar.

A não comparência de assistentes ao corta-fita merece, entretanto, abertura de inquérito. Mesmo que o inquérito fosse aberto pela Câmara seria ridículo. Mas não: o inquérito foi aberto pelo director do agrupamento de que fazia parte a escola cuja biblioteca foi inaugurada pelo senhor regedor. E faz-se jurisprudência: sempre que não houver convivas suficientes num evento camarário em ambiente escolar, o director da escola deverá abrir um inquérito. Dentro do mesmo espírito, defendo que um director passe a abrir inquéritos quando, por exemplo, houver professores que não ponham a bandeira nacional na janela, em dia de jogo da selecção, ou que não aplaudam suficientemente o discurso dos senhores regedores.

Entretanto, mesmo sem inquérito concluído, e porque dotado de poderes para destituições sumárias, o director do agrupamento destitui o coordenador da escola que não soube preparar a recepção ao senhor regedor. Segundo declarações do prestável director, o coordenador foi destituído por ter perdido “a sua confiança”. Mais um precedente no mundo das escolas: o director não precisa de se preocupar com a competência dos seus subordinados, bastando o critério da confiança. Outro precedente: uma das funções dos coordenadores será a de organização de eventos municipais.

O resto é o habitual e triste espectáculo da pequenez autárquica do País, com as lutas de cadeiras, cadeirinhas e bancos. O texto termina em beleza, com o senhor regedor a tornar pública uma conversa que poderá ou não ter ocorrido, mas que, de qualquer maneira, não explica por que razão um coordenador deva ser destituído ou elogiado. No escaldante mundo da vida municipal portuguesa, é com isto que esta gente se entretém. Já se sabe, há muito, que o caciquismo sufoca a vida de muitos municípios. A municipalização e o novo modelo de gestão colocarão a escola à mercê de todos os pequenos regedores com tiques de Jardim.

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Comer a fruta e colhê-la depois

                                                                    

Acções comparáveis a esta iniciativa governamental, em diferentes contextos:

 

  • Velho Oeste: disparar primeiro e perguntar depois.
  • Caça: vender a pele do urso antes de o caçar.
  • Festa: deitar os foguetes antes da dita.
  • Leitura: resumir o livro antes de o ler.
  • Condução: travar depois de bater.
  • Restauração: amanhar o peixe depois de o cozinhar.
  • Futebol: o guarda
    -redes lançar-se dois minutos depois de a bola ter entrado.
  • Criminalidade: deter o cidadão no dia anterior à prática do crime.
  • Sexo: colocar o preservativo após a relação.
  • _____________________________________________________
  • _____________________________________________________

 

(Neste pequeno estudo, tinha a intenção de incluir uma referência à Educação, partindo do princípio absurdo de que seria possível receber diplomas antes de aprender. A realidade vem demonstrando que isso é altamente improvável, uma vez que já é possível receber diplomas em vez de aprender.)

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Naturalizadamente

As declarações da senhora Ministra acerca da Matemática (aqui) já foram comentadas com a celeridade e a qualidade do costume (Paulo Guinote, Ramiro Marques  e Rui Correia), mas não consigo resistir à tentação do disparate.

Segundo a senhora Ministra, “naturalizamos demais as incapacidades dos nossos alunos em matérias como a Matemática”. Tem a senhora muita razão: já bem basta termos naturalizado o Deco e o Pepe, com o Liedson a caminho! Entretanto, não consigo considerar natural que alguém com formação superior possa considerar natural substituir a expressão “achamos natural” por “naturalizamos”.

Ora, se se naturaliza, também se desnaturaliza, pelo que é lógico que a mesma senhora afirme que “Este processo de desnaturalização dos maus resultados tem de envolver todos, até os meios de comunicação, até as telenovelas, até os anúncios. Devíamos ter uma espécie de campanha que chamasse a atenção para várias coisas”. O factor principal está, portanto, na comunicação, na publicidade, no marketing. Já imagino que a próxima professora de Matemática dos Morangos vai ser uma boazona com um grande par de equações ou que se possam ver imagens de Arquimedes a resolver exercícios numa praia do Mediterrâneo, deixando ver uns abdominais perfeitos. Desse modo, desnaturalizava-se naturalmente.

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Olhos que não sentem, coração que não vê

                Segundo a TSF, a senhora Ministra, entre outras pérolas, terá dito que “não tem conhecimento de qualquer destes casos, que nem sequer costumam ser reportados ao Ministério, «porque as escolas intervêm, proporcionando ao aluno aquilo que são as suas necessidades de apoio».” 
             Confesso que também sou um bocado assim: quando não sei da existência de um problema é porque alguém está a resolvê-lo. Por exemplo, a esta hora, em Monção, há um senhor que não consegue abrir a porta de casa, mas como eu não sei disso, o mais certo é que a mulher lhe abra a porta por dentro. Perceberam? Eu também não.

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Com Santo Onofre

               Tenho o privilégio de acompanhar, há alguns anos, a vida da Escola EBI de Santo Onofre, nas Caldas da Rainha. Esse privilégio nasce de um outro, o de ser amigo do
Rui Correia, professor nessa mesma escola e autor do blogue “Postal” (
http://postal.blogs.sapo.pt). Tive oportunidade, também, de privar um dia com o Paulo Prudêncio, outro professor no mesmo estabelecimento e autor do blogue “Correntes” (http://correntes.blogs.sapo.pt).

            Agradeço a ambos terem-me dado a conhecer a vida de uma escola exemplar a vários níveis, como se pode concluir do seguinte excerto:

 

 

“O conjunto destas escolas tem desenvolvido projectos educativos que vêm arrecadando numerosos prémios nacionais atribuídos pelo Jornal Público, pela Associação Portuguesa de História, pela Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, pelo Plano Nacional de Leitura, pela Fundação Calouste Gulbenkian, só para referir alguns dos mais recentes; no ano passado foi uma das duas escolas seleccionadas para representar Portugal na Conferência sobre Inovação e Educação durante a presidência Eslovena da União Europeia; trata-se de uma escola que iniciou no concelho das Caldas da Rainha o processo de implementação dos cartões electrónicos dos alunos, numa iniciativa precursora que beneficiou, nessa altura, de uma cumplicidade diligente e memorável com a sua associação de pais e encarregados de educação; foi precursora na construção de instrumentos informáticos de gestão escolar contemporânea, louvada publicamente pelo Senhor Secretário de Estado da Educação, que a quis conhecer e enaltecer pessoalmente; foi o primeiro a instituir a matrícula automática de todos os seus alunos; foi pioneiro na implementação de atendimento aos seus utentes em regime de open-office; foi precursor na dinamização de plataformas de ensino e de coordenação pedagógica a distância, que hoje fazem parte irremovível do seu quotidiano operacional; foi pioneiro na articulação curricular que permitiu que todos os seus alunos do primeiro ciclo tivessem aulas de inglês, dez anos antes da iniciativa governamental o aplicar ao resto do país; é uma escola com experiência segura em programas comunitários (Arion, Comenius, Pestalozzi, Lifelong Learning Programme); os seus alunos são finalistas habituais em iniciativas nacionais de didácticas específicas (Olimpíadas da Matemática); é um agrupamento com uma elevada incidência de docentes pós-graduados, mestres e doutorandos; o agrupamento integra escolas que se situam em contextos escolares difíceis e que, não obstante, conseguiram, não apenas conter o abandono escolar a taxas ínfimas como melhorar, ano após ano, os níveis de aproveitamento e desempenho escolar; trata-se de um agrupamento que anualmente estrutura um plano de formação autónomo e plural, devidamente acompanhado pelo Centro de Formação que serve o concelho; um agrupamento que se habituou a proceder a uma contínua avaliação interna que mobiliza todos os departamentos curriculares; trata-se do primeiro agrupamento a instituir um sistema seguro e pesquisável de todas as suas actas entretanto digitalizadas; trata-se de um agrupamento que se orgulha de ter recebido inúmeros alunos com necessidades especiais graves numa parceria duradoura, consequente e profissional com o Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor que o elegeu, durante anos, como seu parceiro privilegiado. Trata-se de uma escola que movimenta anualmente em acções de voluntariado cívico centenas de alunos e professores, que consistentemente vêm apoiando diversas entidades e iniciativas que sabemos como amparar. Trata-se, de facto, de uma escola com uma vocação de participação activa junto da comunidade; uma escola que criou, em colaboração com empresas e particulares, currículos adaptados pré-profissionais que permitiram integrar dezenas de alunos que entretanto haviam sido considerados de elevado risco de abandono, eliminando-o completamente. Trata-se de uma escola que mantém as melhores relações com a comunidade que serve e com a administração pública que dela se orgulha e que acompanha com proximidade (escola segura, câmara municipal e parceiros privados).” (http://postal.blogs.sapo.pt/arquivo/1091162.html)

 

 

               

            Como é evidente, uma escola não alcança este grau de excelência sem um grupo de professores de qualidade invulgar, porque, entre outros aspectos, souberam criar condições para serem como são. Curiosamente, esta escola alcançou este patamar de qualidade sem lideranças “fortes” e – pasme-se! – sem pôr em prática o novo modelo de avaliação.

            Num país civilizado, o Ministério da Educação teria todas as razões para apontar esta escola como uma daquelas em que há “boas práticas”, expressão tão do agrado desta equipa ministerial.

            Ora acontece que uma das qualidades dos professores da EBI de Santo Onofre é a de pensarem pela própria cabeça. Depois de terem pensado, deu-se a coincidência de nunca ter surgido nenhuma lista de professores candidatos ao Conselho Geral Transitório, o que levou a que este não se tivesse formado.

            Em resultado disso, o Ministério decidiu substituir o Conselho Executivo (com mandato até 2010) por uma comissão (em que participam dois membros da FNE). Realce-se que o Conselho Executivo cumpriu todos os procedimentos necessários ao lançamento do processo de eleição do Conselho Geral. Ou seja, o Ministério demitiu um Conselho Executivo porque este cumpriu as suas obrigações. Entre muitas coisas com lógica semelhante, seria como alguém ser multado por ter estacionado no sítio devido. Esta decisão ministerial deriva, evidentemente, de uma crença infantil nas “lideranças fortes”.

            Tenho orgulho de pertencer à mesma classe profissional dos professores de Santo Onofre e tentarei merecer essa dignidade. Este texto é a minha maneira de estar presente na concentração marcada para amanhã, nas Caldas da Rainha.

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Alexandre "Ace" Ventura

        As declarações de Alexandre Ventura, presidente do CCAP, obrigaram-me a escrever três comentários disparatados, um outro mais sério e uma proposta. Os três comentários vêm logo a seguir aos três excertos da reportagem do DN de ontem.

“Alexandre Ventura, que além de presidir ao Conselho Científico para a Avaliação dos Professores é também professor na Universidade de Aveiro, encarregou-se de visitar um terço das escolas que de forma voluntária se ofereceram para servir de casos de estudo da aplicação da avaliação. À sede do CCAP, na 5 de Outubro, em Lisboa, já chegaram 23 relatórios das equipas que visitaram os 30 estabelecimentos de ensino distribuídos por 17 distritos nacionais. “Neste momento podemos dizer que um dos factores determinantes no sucesso do processo é a liderança. Quando os órgãos de gestão são fortes e mais experientes, o processo decorre de forma mais serena”, adianta ao DN Alexandre Ventura, que acrescenta que, regra geral, os professores têm avançado e tentado resolver os problemas depois.”


Comentário: Este homem não precisa de inquéritos exaustivos, basta-lhe a intuição, a presciência. É uma Maya com menos seios, uma Blimunda que vê um país sem sair do gabinete, um Mestre Alves que poupa a vida às galinhas pretas. A ventura que tem no nome é do país que tal Alexandre tem. Agora se percebem as conclusões do relatório que pôs o primeiro-ministro a gritar “bravos” à Deborah.

Nas entrelinhas, recupera a ideia – clássica, como todas as ideias simples e brilhantes – da importância da liderança forte, diante da qual o subordinado alcança a alegria de deixar de pensar pela própria cabeça. O parágrafo termina em apoteose, com os professores a avançar e a “resolver os problemas depois”, como o touro na tourada.

Segundo Alexandre Ventura, “neste processo houve muita tendência para ouvir e ver o que os outros estavam a fazer e essas redes informais levaram as pessoas a articular as suas acções”. Mas a tese do presidente do Conselho Científico não implica uma critica à actuação sindical, “que naturalmente apelaram à luta dos professores”, até porque este foi um movimento muito assente na “proliferação de blogues, que juntamente com os outros actores criaram contra-informação, que acabou por influenciar os professores”.

Comentário: Fazendo uso de uma rara lucidez no campo da psicologia de massas, conclui esta coisa hedionda: as pessoas ouviram e viram o que os outros andavam a fazer e – horror! – articularam as suas acções. A culpa, no entanto, não é dos professores, que, “coitadinhos”, foram influenciados. Mesmo os sindicatos são desculpados, porque mais não sabem fazer do que apelar à luta, estás-lhes no sangue, pobrezitos. No fundo, isto foi tudo um problema de más companhias. Uma vez desmascarados os blogues e “os outros actores”, os professores poderão, guiados pela mão das lideranças fortes, redescobrir o caminho recto.

 

“No entanto, para o responsável, a realidade nas escolas é bem diferente. “Quando vamos ao terreno, quando percebemos que 75 por cento dos professores entregaram os objectivos individuais, temos um retrato bem diferente daquele que passou para a opinião pública”, conclui Alexandre Ventura.”


Comentário: É sempre de louvar a “ida ao terreno”. É a atitude do homem disposto a sujar as mãos, do ser superior que compreende o povo, que tem para o professor transviado uma palavra de consolo, é um pastor da “Igreja dos 75 por cento”. Pode, agora, a opinião pública ficar a conhecer a verdade, ver a luz, afinal.

 

            Agora, a sério:
 

O senhor Professor Alexandre Ventura poderia, se estivesse genuinamente interessado, realizar um inquérito, a fim de saber se os professores estão de acordo com esta avaliação e porquê. Em vez disso, faz de conta que os números têm significado, papagueando o discurso ministerial. Depois de ter participado no célebre relatório praticamente-da-OCDE, Alexandre Ventura faz questão de se manter do lado errado da História da Educação em Portugal, copiando os tiques do costume: alinhavar conclusões sem estudos que as sustentem e aceitar aparências como realidades.

A proposta:

            Gostaria de deixar aqui um desafio: se há professores que entregaram objectivos individuais e não concordam com a avaliação, seria importante tornar isso público, mesmo que implique assumir que o fizeram por medo ou por comodismo. Desse modo, seria possível mostrar à opinião pública o que pensam verdadeiramente os professores.

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