A linguagem que se aplica à realidade depende de quem a aplica, é certo, mas é inevitável e, até, desejável que a realidade influencie e limite a linguagem. Explico-me: é absolutamente natural, por exemplo, que palavras como sintoma ou diagnóstico ou vírus possam ter transitado da Medicina para outras áreas, mas há, com certeza, um limite a partir do qual outras realidades externas à Medicina possam reagir mal, não fazendo sentido afirmar coisas como “o problema da dívida externa poderia resolver-se com recurso à laparoscopia”, por muita imaginação alegórica que se possa ter.
É por isso que nunca me habituarei a ver aplicada à escola a mesma linguagem tecnocrático-empresarial-economesa visível no discurso de Alexandre Ventura, ao declarar que “não iniciaram as suas actividades entre 13 a 15 unidades de gestão [agrupamentos e escolas não agrupadas]”. Note-se, aliás, que o próprio Jornal de Notícias se sentiu na necessidade de explicar o que o senhor queria dizer: a expressão entre parênteses rectos faz parte da citação.
Já se sabe que uma escola pode e deve ser gerida com o mesmo rigor de uma empresa, mas o problema aqui – e não só agora – é que este tipo de afirmações não constitui apenas um tique de linguagem, antes releva de um conceito de escola que nada tem a ver com aquilo que deve ser uma escola. Como diria um dos meus heróis, Jim Royle, “Unidades de gestão, my arse!” Podia traduzir à moda do Porto, mas só quero ser moderadamente malcriado.
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Viva Fernando.
Percebe-se bem a indignação 🙂
Abraço.
Olá, Paulo
A indignação é o que ainda vai restando.
Abraço