Arquivo de etiquetas: 25 de Abril

Mostrar ou ser, eis a questão

Sua Vacuidade Presidencial não desperdiça nenhuma oportunidade de esvaziar palavras ou de transformar frases em abismos negros. Hoje, na Assembleia da República, sempre com a ilusão contentinha de quem se julga iluminado, terá afirmado que devemos “mostrar que somos um … Continuar a ler

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Teremos sempre Grândola

Teremos sempre Grândola o aparente topónimo o barulho dos passos a voz do trovador a chave da porta o arrepio essencial a rua em forma de poesia Quando Grândola passa por mim não me consigo esconder Quando passo por Grândola … Continuar a ler

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As marcas que Março marcou

Na noite de 16 de Março de 1974, dez minutos depois da uma da manhã, um comboio militar saía do Regimento de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha. Por alguns minutos, a imensa serpente de veículos militares deixou no ar … Continuar a ler

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Que vergonha! Com a incompetência toda à mostra!

            A                                       “Professora que posou para a “Playboy” foi afastada dos alunos”      Pode-se discutir se um professor deve ou não cuidar da sua imagem pública? Pode. Poderá a exposição pública da nudez ser motivo para despedimento de um … Continuar a ler

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25 de Abril cada vez menos

     Talvez tenha o coração demasiado perto do cérebro e, por isso, não vejo que nada no mundo possa ser imaculado. A partir daí, procuro conviver o mais saudavelmente possível com máculas desculpáveis e inaceitáveis manchas, esforçando-me por amar o … Continuar a ler

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25 de Abril quase sempre

          

             Há 34 anos, no dia 25 de Abril, aconteceu-me uma coisa inédita: a minha mãe disse-me que eu não ia à escola, sem sequer estar doente ou estar a fingir que estava. Foi o que se chama uma verdadeira revolução. É claro que não tinha tido muitas oportunidades de faltar às aulas, até porque ainda só estava na quarta classe, mas, pela primeira vez, a minha mãe, a mesma que se esfalfava a lembrar-me da necessidade de fazer os trabalhos de casa, de ser responsável, de levar a vida a sério, a minha mãe, dizia eu, impediu-me de ir às aulas.

             Na altura, vivíamos em Lisboa e alguém ligara a dizer que havia tanques na rua. Na altura, ainda pensei que eram tanques da roupa, o que seria muito estranho e até poderia atrapalhar o trânsito, mas eram dos outros, de guerra. Ora, com 9 anos, as únicas guerras que conhecia eram as dos filmes em que, obviamente, só morriam os maus. Quando soube que os homens dos tanques vinham lutar contra o senhor Américo Tomás, estranhei: um senhor tão simpático, tão respeitavelmente careca, não podia ser mau. Ainda por cima, era Presidente da República, cargo que não podia ser desempenhado por maus da fita. Para cúmulo, tinha achado muita graça, quando, algum tempo antes, o mesmo senhor, apesar da idade avançada, saltara alguns degraus no Estádio Nacional, para entregar a Taça de Portugal já não sei a quem.

            A alegria evidente dos meus pais, no entanto, fez-me pensar que, das duas uma, ou eram ambos maus ou, afinal, o senhor Presidente não seria assim tão bom. Depois de reflectir maduramente, durante cerca de dois minutos, decidi que os meus pais não podiam ser maus, primeiro, porque eram meus pais, e, depois, porque, de qualquer modo, ainda tinha de viver com eles mais uns anos e não me convinha nada que fossem maus. Ficou, portanto, decidido que os maus eram os outros, incluindo, então, aquele velho hediondo.

            Mais ou menos uma semana depois, como acontecia nos anos anteriores, chegou o dia 1 de Maio. Desta vez, em vez de ficar em casa, fomos todos para a rua, onde, estranhamente, não havia lugar. Nunca tinha visto tanta gente na rua e a sorrir, mesmo nas paragens de autocarro, onde as pessoas ficavam instantaneamente tristes. Andavam todos com dois dedos no ar, que era o gesto que o meu pai fazia quando pedia uma cerveja para ele e outra para os amigos. Pensei que aquela gente devia gostar muito de cerveja. Resolvi aproveitar a confusão e pedir o mesmo. Quando me explicaram que aquilo era sinal de vitória, não pude esconder alguma desilusão e percebi que ainda tinha de esperar mais uns tempos até beber a primeira cerveja.

            Entretanto, via imagens estranhas e ouvia palavras novas: presos políticos, fascismo, PIDE, Caxias, capitães, guerra colonial, direitos, trabalhadores, povo. Não compreendia tudo, mas também não era preciso, porque não é preciso perceber tudo de uma vez, especialmente quando se tem 9 anos.

            Desde então, tenho aprendido algumas coisas, que não tomo como garantidas, porque já me bastou aquela desilusão com o Presidente que, afinal, não era dos bons. Aprendi, em primeiro lugar, que o 25 de Abril, sorriso do povo, também não está isento de erros, mas acredito que um dia em que as armas se enfeitaram com cravos merece muito crédito. Aprendi que uma revolução é apenas o início e que estaremos sempre longe do fim. Aprendi que a palavra é de ouro, num país em que fomos obrigados a comprar demasiado silêncio. Aprendi que é melhor ouvir o que as pessoas têm para dizer, especialmente se forem muitas e estiverem a dizer o mesmo.

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