Violência domesticada

A família: ele, à frente, com um cigarro na mão, a linguagem corporal de quem respira agressividade; um outro homem mais velho, calado como um sogro; uma criança; no fim do cortejo, uma mulher a empurrar um carrinho de bebé.

Viro à esquerda e, para os deixar atravessar a passadeira, fico parado na faixa contrária. Agradecido, o chefe de família, grita para trás:

– Despacha-te! Olha o senhor!

A mulher, rouca, roufenha, dispara, nada conciliadora:

– Tem calma!

O homem vem até à cauda da comitiva, entre o ameaçador e o jocoso. A mulher dispara novamente, risonha e amedrontada:

– Anda! Olha o senhor!

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