Drama ortográfico: de direito e de facto

Personagens: acordista e perguntador

Perguntador (curioso, como convém) – Então, agora, com o acordo ortográfico, escrevemos todos da mesma maneira, é?

Acordista – É evidente. Por isso é que é um acordo ortográfico, é para escrevermos todos da mesma maneira.

Perguntador – Não há, portanto, duas ortografias diferentes? É a mesma para todos?

Acordista (antecipadamente desagradado com algumas consoantes mudas que vão aparecer na sua fala) – Exactamente, com o actual acordo, passa a haver uma ortografia única.

Perguntador – Tenho uma dúvida: passámos a escrever “fato” como os brasileiros ou passaram eles a escrever “facto” como nós?

Acordista (espantado com a pergunta) – É evidente que os brasileiros continuam a escrever “fato” e os portugueses “facto”.

Perguntador (espantado com a resposta) – Mas isso não quer dizer que, afinal, continua a haver ortografias diferentes no Brasil e em Portugal?

Acordista (enfadado) – Claro que não: segundo o acordo, as consoantes que se pronunciam escrevem-se e não se escrevem as que não se pronunciam.

Perguntador (sentindo-se retórico) – Mas o facto de termos pronúncias diferentes e de termos de escrever conforme pronunciamos não leva a que escrevamos de maneira diferente?

Acordista – Isto é muito simples, criatura: agora, há um normativo legal que cria uma ortografia única. Ora, essa ortografia única está garantida, mesmo que tenhamos de escrever as mesmas palavras de maneira diferente.

Perguntador – Então temos uma ortografia única porque há um documento que afirma que temos uma ortografia única?

Acordista – Vejo que começa a perceber.

Perguntador – E a ortografia é única, mesmo que a mesma palavra se escreva de maneira diferente no Brasil e em Portugal?

Acordista – Lá está: escrevem-se de maneira diferente, porque, finalmente, há um critério comum.

Perguntador – Se bem entendi, o facto de haver grafias diferentes, no Brasil e em Portugal, não quer dizer que haja ortografias diferentes?

Acordista – A partir do momento, em que as diferentes maneiras de escrever a mesma palavra estejam previstas num mesmo documento, a ortografia passa a ser a mesma.

Perguntador – E por que razão me lembro tanto do Ricardo Araújo Pereira e do Marcelo Rebelo de Sousa?

Esta entrada foi publicada em Acordo ortográfico com as etiquetas , , , , . ligação permanente.

4 respostas a Drama ortográfico: de direito e de facto

  1. E espetar 500 estalos aos acordistas, não?! Então se forem de esquerda e comunistas ainda têm de levar mais.

  2. Pingback: Acordo? Ortográfico? – Aventar

  3. benilde pinto diz:

    A minha resposta é:quanto mais leio sobre este assunto mais confusa fico bolas.

Deixe um comentário