Cavácuo

O ainda Presidente da República é absolutamente portuguesinho na crença de que é providencial e, numa gaguez latente de mestre-escola deslumbrado, passa o tempo a dizer que “já sabia” e que “já tinha avisado”. Não fosse tão doutorado, estaria hoje a explicar aos colegas numa casa de pasto de Boliqueime que isto das agências de reiting já ele os tinha topado há muito tempo e que também já sabia muito bem que o árbitro ia roubar e que se estava mesmo a ver que a conquilha, este ano, não ia estar boa. Durante a campanha, zoólogo estudioso do animal, avisou-nos, ignaros que somos, de que era preciso não insultar a bicharada a quem devemos dinheiro e que os mercados estavam a ouvir e podiam enervar-se e se todos fizerem como eu estou a dizer vai correr tudo bem.

A Moody’s, no entanto, não estará ciente de que Delfos é em Belém e a pitonisa não chegou a ser consultada. Não deixa de ser curioso notar que sua altivez só se manifestou – e como se manifestou – agora que o Governo tem uma cor diferente. O homem que tudo sabe, sobretudo sobre o futuro, fica, agora, escandalizado com algo que tanta gente já sabia: as moodys e outros tumores não são mais do que manifestações do Deus-Mercado em cujo altar oram as tristes gravatas que nos governam. É demasiado simples.

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Uma resposta a Cavácuo

  1. Sem dúvida alguma, António, é mesmo importante que envies estes textos para os jornais! Estão com uma lucidez e ironia fantásticas! Neste momento difícil em que vivemos é essencial que espíritos lúcidos esclareçam, critiquem e ironizem! Grande abraço!

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